domingo, 29 de agosto de 2010

Os compromissos do Servo
Texto Atos 20.17-38.
Introdução: Nesse texto, Paulo aborda os compromissos do Servo. Vamos, aqui, considerar 03 deles:
1. O compromisso do Servo com Deus: “servindo ao Senhor com toda a humildade...” (At 20.19).
O primeiro compromisso do servo não é com a obra de Deus, mas é com o Deus da obra. O Deus da obra é mais importante do que a obra de Deus. O relacionamento com Deus vem antes do trabalho para Deus. O primeiro chamado do Servo é para andar com Deus, e, como resultado dessa caminhada com Deus, ele deve fazer a obra de Deus. A esse respeito, é sintomático o texto que trata da chamada dos apóstolos por Jesus. Vejamos Marcos 3.13-15: “Depois, subiu ao monte e chamou os que ele mesmo quis, e vieram para junto dele. Então, designou doze para estarem com ele e para enviá-los a pregar e a exercer a autoridade de expelir demônios”. À luz do que você acaba de ler, pergunto-lhe: Qual a primeira coisa para qual Jesus chamou os seus discípulos? Jesus os chamou para que, primeiramente, estivessem com Ele; em comunhão e intimidade com Ele. A pregação e a expulsão de demônios, ou seja, a realização da obra de Deus vêm depois do estar com Deus.
Em Atos 20.19, Paulo nos fala como ele serviu a Deus. Três fatos, aqui, merecem ser destacados:
1º. O Servo está a serviço de Deus, e não dos homens: Quem serve a Deus não anda atrás de aplausos e de medalhas de honra ao mérito. Quem serve a Deus não depende de elogios nem se desanima com as críticas. Quem serve a Deus não teme ameaças nem se intimida com as perseguições.
Ilustração: Lutero e Catarina.
Um Servo deve estar convicto de que os bancos não podem controlar o púlpito. O pastor não deve mudar a mensagem para que ela seja palatável, ajustada ao gosto dos ouvintes. Servo, efetivamente, comprometido com Deus prega não o que os outros querem ouvir, mas aquilo que eles precisam ouvir. Ele é servo de Deus, não servo dos homens. John Stott diz que a função do pregador é incomodar as pessoas que estão acomodadas, e acomodar as que estão incomodadas.
2º. Servo deve servir a Deus com profundo senso de humildade: “servindo ao Senhor com toda a humildade...” (At 20.19). Fazer a obra de Deus sem humildade é construir um monumento para si. É levantar uma outra modalidade da Torre de Babel. Vivemos, todavia, os dias dos “grandes servos de Deus” (o que é a mais absurda das contradições). Se alguém é servo, não pode ser grande, e se é grande não pode ser servo. Ou se é uma coisa, ou se é outra coisa. Vivemos, infelizmente, os dias em que lideres só faltam cantar o hino “Quão grande és tu” diante do espelho. Uma prova da megalomania é a inovação dos títulos eclesiásticos que se verificam no mercado evangélico (pastor, bispo, arcebispo, apóstolo, vice-deus, etc.).
Deus não precisa de estrelas para fazer a sua obra. Porém, um dos graves problemas enfrentados pela igreja da atualidade é o pecado da tietagem. Alguns pastores e cantores são tratados como se fossem estrelas do cinema. São pessoas altivas e orgulhosas que estão embriagadas com o vinho da fama. Deus não precisa de estrelas para revolucionar este mundo com a mensagem do Evangelho. Ele precisa de servos conscientes de que eles não são nada, mas que o seu Senhor é tudo.
Por isso J. Wesley disse: “Dê-me cem homens que nada temam senão a Deus e o pecado e vamos transformar este mundo”. Precisamos de pregadores humildes que objetivem não tomar para si a glória que pertence unicamente a Jesus.
Ilustração: A ovelha de Spurgeon.
3º. O servo não deve esperar facilidades pelo fato de estar servindo a Deus: “servindo ao Senhor com toda a humildade, lágrimas e provações que, pelas ciladas dos judeus, me sobrevieram” (At 20.19). Quem serve a Deus com humildade e integridade costuma despertar animosidades e hostilidades no arraial inimigo. Afinal, não estamos numa colônia de férias. Estamos num campo de batalhas. Não há um ministério pastoral sem tensão. Não há ministério pastoral indolor. Não há ministério pastoral sem lágrimas. Ser líder é estar disposto a investir na vida dos outros sem receber o devido reconhecimento. Ser líder é amar sem esperar recompensa; é dar sem esperar receber de volta. Ser pastor é saber que o nosso galardão não nos é dado aqui, mas no céu.
Pasmem, mas as pessoas que andaram mais perto de Deus foram as que, geralmente, mais sofreram. As pessoas mais usadas por Deus foram as que passaram pelo fogo da provação. Foi C. S. Lewis que disse que Deus jamais usa alguém sem antes provar este alguém. É que Deus trabalha em nós, antes de trabalhar por nós e através de nós.
Paulo foi a pessoa de maior expressão do cristianismo em todos os tempos. Pregador incomparável. Teólogo incomum. Homem de orações e jejuns. Mas sofreu barbaramente. Quando Paulo se converteu, Deus já havia antecipado, lhe dizendo: “Eu lhe mostrarei o quanto importa sofrer pelo meu nome”. A vida deste homem foi marcada pelo sofrimento. Na sua carta mais autobiográfica, 2ª Coríntios, ele disse que enfrentou açoites, prisões, naufrágios, perigos de morte, foi fustigado com vara, apedrejado, caluniado, criticado, ridicularizado, passou fome, sede, nudez. Isso nos ensina que nosso sofrimento não é, necessariamente, sinal de que estejamos longe de Deus e fora da sua vontade. Apesar de tudo isso pelo que passou, Paulo diz: “Eu tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem se comparar com a glória que há de ser revelada no porvir”. E, em meio a um desses sofrimentos, Deus disse a Paulo: “Paulo, a minha graça te basta, pois o meu poder se aperfeiçoa na sua fraqueza”.
É claro que o liderr não deve ter uma idéia romantizada do que seja o ministério a obra de Deus, mas isso não significa que o ministério obra seja um peso ou um fardo. Creio, particularmente, que ser líder é um grande privilégio. Nenhuma posição na terra deveria seduzir mais do que o exercício da obra de Deus. Ser embaixador de Deus é melhor do que ser embaixador da nação mais poderosa do mundo. Charles Spurgeon dizia aos seus alunos: “Filhos, se a rainha da Inglaterra vos convidar para serdes embaixadores em qualquer lugar do mundo, não vos rebaixeis de posto, deixando de serdes embaixadores do céu”. Hoje, porém, vemos muitos pastores deixando o ministério pastoral para serem vereadores, deputados, prefeitos, senadores e presidentes da República. Isso é um equívoco e uma troca infeliz.
2. O compromisso do servo consigo mesmo: “Vós bem sabeis como foi que me conduzi entre vós em todo o tempo, desde o primeiro dia em que entrei na Ásia” (At 20.18). Quero destacar alguns pontos aqui:
1º. O lider precisa cuidar de si mesmo antes de cuidar do rebanho de Deus: Antes de pastorearmos os outros, precisamos pastorear a nós mesmos. Antes de exortarmos aos outros, precisamos exortar a nós mesmos. Antes de confrontarmos os pecados dos outros, precisamos confrontar os nossos próprios pecados.
A autoridade do pregador está em viver aquilo que ele prega. Antes de pregar aos outros, a mensagem deve produzir efeito na vida do próprio liderr. O que o líder ensina , ele deve viver fora. A vida do líder fala mais alto do que o seu sermão. A ação fala mais alto do que as palavras. Exemplos influenciam mais do que preceitos.
O sermão mais eloqüente não é aquele pregado no púlpito, mas aquele vivido no lar e na sociedade. O pregador prega não apenas aos ouvidos, mas também aos olhos. Não prega apenas com palavras, mas, sobretudo, com a vida e com exemplos.
Um pregador impuro no púlpito é como um médico que começa uma cirurgia sem fazer assepsia das suas mãos. Ele causará mais mal do que bem. Spurgeon dizia que o maior instrumento do Diabo dentro duma igreja é um ministro de vida suja. É bem conhecido o que Moody disse: “O principal problema da obra são os obreiros”.
2º. O lder deve cuidar de si mesmo para não praticar o que ele mesmo condena: Há muita gente vivendo em pecado e vivendo de aparência. Há muitos navegando no lamaçal dos sites pornográficos, e, depois, sobem ao púlpito e exortam o povo a viver em santidade., mas vivem de forma frouxa na sua vida pessoal. Há, por exemplo, muitos há que pregam sobre felicidade no casamento, mas os seus próprios casamentos estão destruídos. Aconselham casais em crise, mas não aplicam os mesmos conselhos ao seu próprio relacionamento conjugal. Há os que pregam uma coisa e praticam uma outra coisa. São amáveis com os de fora de casa e amargos com os de dentro de casa. São tolerantes com as ovelhas, e implacáveis com os filhos. São anjos com os de fora e demônios dentro de casa. Ouvi alguém afirmar que Noé foi o maior evangelista que já existiu. Pois, embora não tenha conseguido levar ninguém para arca, levou com ele toda a sua família. Há muitos pastores, todavia, que são instrumentos para levar muita gente à salvação, mas perdem a sua própria família.
3º. O lider deve cuidar de si mesmo para não cair em descrédito: Há pastores que perderam o ministério porque foram seduzidos pelos encantos do poder, embriagados pela sedução do dinheiro, e acabaram caindo nas teias da tentação sexual. Há lideres que causaram mais males com seus fracassos e quedas do que benefícios com o seu trabalho. Se um líder perder a sua credibilidade, ele perde também o seu ministério. Mas, lamentavelmente, uma recente pesquisa apontou que as 03 classes mais sem crédito no Brasil são: política, policial e a pastoral. Antigamente, pastor era sinônimo de credibilidade e respeitabilidade. Haja vista que os pastores eram chamados de “reverendo”. Hoje, porém, pastor tem sido sinônimo falcatrua e maracutaia. Antigamente, falava-se em cair no conto do vigário. Hoje, fala-se em cair no conto do pastor. Antigamente, uma moça que se casava com um pastor era como conseguir um passaporte para o casamento feliz. Hoje, casar-se com um pastor é um contrato de risco.
O pastor precisa ser um homem de vida irrepreensível. Sua reputação precisa ser imaculada. Ele precisa ter bom testemunho dos de fora. Portanto, o pastor não pode ter pendências financeiras na praça. O lider não pode ser desonesto nos seus compromissos financeiros. Ele precisa ser alguém que compra e paga, fala e cumpre. O pastor não pode ser um homem enrolado financeiramente. Mas muitos pastores perderam a credibilidade no pastorado pela inabilidade de gerenciar as suas finanças. Há pastores sem crédito na praça. Compram e não pagam. Tomam emprestado e devolvem. Há pastores que nem sequer entregam o dízimo. Há pastores que não sabem usar cartão de crédito nem cheque especial, pois compram aquilo de que não precisam, com dinheiro que não têm para impressionar pessoas a quem não conhecem.
3. O compromisso do pastor com a igreja: Dos versículos 28 a 32, Paulo fala dos compromissos do pastor com a igreja. Quero aqui destacar alguns pontos:
1º. O pastor deve cuidar de todo o rebanho e não apenas das ovelhas mais dóceis: “Olhai, pois, por vós e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus...” (At 20.28).
Há ovelhas dóceis e indóceis. Há ovelhas que obedecem ao comando do pastor e ovelhas que fogem de debaixo do cajado do pastor. Há ovelhas que escoiceiam o pastor e há ovelhas que são o deleite do pastor. Há muitas ovelhas, sobretudo, alguns líderes e diáconos que se consideram os patrões do pastor. Eles são mais críticos do pastor do que seus cooperadores. Eles trabalham como fiscais do pastor, e não como incentivadores dele. Eles estão sempre prontos para destacar os pontos vulneráveis do pastor, mas jamais lhe encorajam com um elogio sincero. Há muitos pastores feridos, humilhados e pisados por ovelhas. Há muitas ovelhas que tornam a vida do pastor um pesadelo. Portanto, há o perigo de o pastor cuidar apenas das ovelhas amáveis e deixar de lado as outras. Porém, a ordem divina é que o pastor deve cuidar de todo o rebanho, e não apenas de parte dele.
2º. O lider não é dono da igreja, mas servo do rebanho: “Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue” (At 20.28). Jesus é o único dono da igreja. O Senhor não nos deu uma procuração para que nos apossemos da sua igreja. Na igreja, todos somos nivelados no mesmo patamar. Todos somos servos. O pastor não deve ser um ditador, mas um pai.
Há, todavia, pastores que governam a igreja com rigor excessivo. Em vez de exercer o pastorado com autoridade, agem como autoritarismo. Nosso modelo de liderança é aquele exercido pelo Senhor Jesus. Ele foi um líder servo. O líder não é aquele que grita mais alto, mas aquele que conquista o coração de todos pelo exemplo e serve os liderados com amor.
Aqueles pastores que se arvoram como donos da igreja lidam com ela como se ela fosse sua empresa e seu reino particulares, e, portanto, se julgam no direito de criar uma dinastia dentro da igreja. É por isso que em algumas igrejas, o pastor, além de ser vitalício, ele estabelece que, com a sua morte, quem assume automaticamente a direção é um dos seus filhos. Entretanto, esse pastor se esquece que unção não é hereditária. Pois se unção fosse hereditária, quem sucederia Moisés na liderança de Israel não seria Josué. Seria o Moisés Jr.; quem sucederia a Elias não seria o Eliseu; seria o Eliazinho.
3º. O lider precisa proteger o rebanho dos ataques externos: “Eu sei que, depois da minha partida, entre vós penetrarão lobos vorazes, que não pouparão o rebanho” (At 20.29).
Paulo diz que existem lobos do lado de fora buscando uma oportunidade para entrar no meio do rebanho para devorar as ovelhas. O pastor, então, deve ser o guardião e o protetor do rebanho. Com o Davi, o pastor precisa declarar guerra aos ursos e leões, protegendo o rebanho dos seus dentes assassinos. Há muitos falsos mestres com suas perniciosas heresias tentando entrar na igreja. O pastor, pois, precisa estar atento.
4º. O lider precisa proteger o rebanho dos ataques internos: “que, dentre vós mesmos, se levantarão homens falando coisas pervertidas para arrastar os discípulos atrás deles” (At 20.30). O perigo vem não apenas de fora, mas também de dentro. Há lobos vestidos com peles de ovelhas dentro da própria igreja. Há falsos mestres camuflados que buscam ocasião para se manifestar e provocar um estrago no arraial do povo de Deus. Por isso, o lider deve ser zeloso no ensino, não dando guarida nem oportunidade aos oportunistas que se infiltram no meio da igreja para disseminar suas heresias.

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